sábado, 2 de outubro de 2010

5 de Outubro de 1143 - Dia da Fundação de Portugal

Nos dias 4 e 5 de Outubro de 1910 alguns militares da Marinha e do Exército iniciaram uma revolta nas guarnições de Lisboa, com o objectivo de derrubar a Monarquia. Juntamente com os militares estiveram a Carbonária e o as estruturas do PRP (Partido Republicano Português).
Na tarde do dia 5 foi proclamada a República à varanda da Câmara Municipal de Lisboa, por José Relvas.
Apesar de alguma resistência e de alguns confrontos militares, o exército fiel à monarquia não conseguiu organizar-se de modo a derrotar os revolucionários. A Revolução saiu vitoriosa, comandada por Machado dos Santos.
O último Rei, D. Manuel II, partiu com a Família Real para a Inglaterra, onde ficou a viver no exílio.
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Sem querer ser uma voz dissonante com os Republicanos que vêem o dia 5 de Outubro  de 1910 como uma data de 100 anos de história  que levou ao fim da Monarquia, e início de uma ditadura Republicana....quero partilhar algo muito mais nobre e mais importante:
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Apesar do dia 5 de Outubro ser o feriado do laicismo republicano de 1910, importa relembrar e homenagear devidamente em cada 5 de Outubro que passa, um evento da Idade Média deveras especial e carismático que os Portugueses não podem esquecer nem ignorar: o Tratado de Zamora, ocorrido a 5 de Outubro de 1143. Nesta data emblemática ocorreu a Fundação da nossa Nacionalidade, devido ao esforço e mérito de D.Afonso Henriques, Primeiro Rei de Portugal. Até ser possível a Fundação do Reino de Portugal, muitos acontecimentos e lutas ocorreram na Península Ibérica. Por isso, temos que viajar no tempo, e fazer um regresso ao passado, pelo menos até ao século XI...
Em meados do século XI, D.Raimundo de Borgonha e seu primo D.Henrique de Borgonha vieram para a Península Ibérica ajudar o Rei D.Afonso VI de Leão na luta contra os inimigos da fé cristã (Mouros). Como recompensa pelos serviços prestados por estes cavaleiros, D.Afonso VI casou sua filha D.Teresa com D.Henrique, e casou sua filha D.Urraca com D.Raimundo. Além disso, D.Afonso VI dividiu o território de Leão em três partes: manteve uma parte para si e criou dois feudos. Desses dois feudos, doou a D.Urraca e a D.Raimundo o Condado da Galiza, e doou a D.Teresa e a D.Henrique o Condado Portucalense.
Apesar de D.Henrique desde muito cedo cumprir o seu dever de aumentar o Condado que lhe foi doado, conquistando terras aos Mouros, também pretendia libertar-se da dependência do Rei de Leão, de modo a transformar o Condado num Reino. No entanto, faleceu em 1112, sem o ter conseguido. Por morte de D.Henrique, fica D.Teresa a governar o Condado Portucalense. Em 1126, D.Afonso VII, filho de D.Urraca e de D.Raimundo, sendo já Rei de Leão e Castela, pretendeu desde logo dominar o Condado Portucalense e submeter a sua tia D.Teresa e seu primo D.Afonso Henriques ao seu poder.
Entre 1127 e 1128, D.Afonso Henriques entra em oposição com o partido de sua mãe D.Teresa que era apoiada pelos nobres galegos, dirigidos por Fernão Peres de Trava. Com o apoio dos nobres do seu Condado, D. Afonso Henriques pretendia evitar que o Condado fosse anexado à Galiza. Os dois partidos confrontaram-se em 1128 na Batalha de S. Mamede da qual saiu vencedor D. Afonso Henriques.
Até 1137, D. Afonso Henriques deixou de cumprir os laços de vassalagem com o Rei de Leão e Castela, numa atitude de rebelião declarada, tendo ousado trocar o título de Princeps pelo de Rex. Notando, porém, que os Mouros atacavam pelo Sul os seus domínios, viu-se obrigado no mesmo ano a pedir a paz a D.Afonso VII, aceitando-a em condições algo desvantajosas, no Tratado de Tui, pelo qual reconheceu os laços de fidelidade vassálica para com o Rei D.Afonso VII de Leão e Castela. No entanto, nova guerra estalou, tendo D. Afonso Henriques cortado os laços de vassalagem com D.Afonso VII. D. Afonso Henriques, já senhor do poder após a vitória da batalha de S.Mamede, como resposta ao cerco de Guimarães, e com o desejo sempre crescente de alcançar a independência, invadiu a Galiza e derrotou os Leoneses na Batalha de Cerneja em 1137. Depois, D. Afonso Henriques organizou o seu exército e deslocou-se ao Alentejo para defender as suas fronteiras ameaçadas pelos Mouros. A 25 de Julho de 1139, encontrou-se em Ourique com um poderoso exército de infiéis, comandado por cinco Reis Mouros. Mas tudo isso não evitou que a derrota dos muçulmanos fosse completa, tendo D.Afonso Henriques alcançado uma brilhante vitória.
Após esta vitória, D.Afonso Henriques que já se intitulava Rei de Portugal, marchando em seguida sobre o norte, invadiu em 1140 novamente a Galiza, para anular a paz de Tui. D.Afonso VII, respondendo a esta afronta, invadiu por sua vez os territorios do Condado Portucalense, avançando até junto de Arcos de Valdevez. Travou-se logo um confronto de que os Portugueses sairam vencedores. A paz entre D.Afonso VII e D.Afonso Henriques viria a seguir com o Tratado de Zamora.
O Tratado de Zamora consistiu numa Conferência de Paz realizada entre D. Afonso Henriques e seu primo o Rei D. Afonso VII de Leão e Castela, a 5 de Outubro de 1143. É a partir desta data que se assinala a independência de Portugal perante Leão e Castela e dá-se o início da Dinastia Afonsina ou Dinastia de Borgonha. Um grande impulsionador desta Conferência de Paz foi o Senhor Arcebispo de Braga, Dom João Peculiar que auxiliou D. Afonso Henriques no sentido da formação do novo Reino de Portugal porque assistiu às glórias dele, e viu que ele era um homem forte e corajoso, feito pela liderar e reinar, portanto, não poderia ser jamais submisso de Leão e Castela!Por isso, Dom João Peculiar promoveu em Zamora nos dias 4 e 5 de Outubro, o encontro de D. Afonso Henriques com D.Afonso VII de Leão e Castela perante a presença do Senhor Cardeal Guido de Vico. Segundo a tradição, este Cardeal e emissário do Papa Inocêncio II pretendeu ali harmonizar os dois primos, cujas desavenças e rivalidades favoreciam os Mouros e colocavam em perigo a Cristandade. Os dois primos, nessa Conferência de Paz de que resultou o célebre Tratado de Zamora, prometeram paz duradoura entre eles. Ficou também estabelecido o seguinte: o Soberano D.Afonso VII de Leão e Castela reconheceu e confirmou a Soberania Portuguesa, visto que considerou D.Afonso Henriques como Rei de Portugal (Portucale), apesar de na prática D.Afonso Henriques já usar o título de Rei desde 1140; e D.Afonso Henriques, por sua vez, comprometeu-se perante o Senhor Cardeal Guido de Vico a ser vassalo da Santa Sé, tendo ele e os seus descendentes a obrigação de pagar um censo anual à Igreja, de 4 onças de ouro (para melhor garantia de independencia nacional e firmeza da Coroa). Numa carta de Dezembro de 1143, D.Afonso Henriques escreveu uma carta ao Papa a afirmar e formalizar que se considerava a ele e a todos os seus sucessores como «Censual» da Igreja de Roma, e na qual se declarava a si próprio «homem e Cavaleiro do Papa e de São Pedro, sob a condição de a Santa Sé o defender de quaisquer outros poderes eclesiásticos ou civis».
No entanto, apesar de D.Afonso VII de Leão e Castela ter reconhecido a Soberania Portuguesa em 1143, só a 23 de Maio de 1179 é que o Papa Alexandre III a reconheceu pela Bula Manifestis Probatum, na qual D.Afonso Henriques é reconhecido como Rei de facto e de Direito do território português. No entanto, pelo Tratado firmado em Zamora a 5 de Outubro de 1143, a nossa Soberania e Independência já estavam mais que garantidas. Sem dúvida que este acontecimento consistiu na génese construtiva de uma nova identidade, de um novo Reino, e é isto o que mais importa assinalar e comemorar no dia 5 de Outubro. Já se passaram 867 longos anos!

Louvor eterno para o Fundador de Portugal, D.Afonso Henriques, e para todos os nossos Reis!

Lusa

A bandeira nacional, da autoria de Columbano, João Chagas e Abel Botelho, foi adoptada pelo regime revolucionário de 5 de Outubro de 1910. De acordo com o Decreto-lei de 19 de Junho de 1911, a bandeira tem as cores verde (dois quintos) e vermelha (três quintos), com o escudo de armas na linha divisória.”

Significado dos símbolos e cores:

- As 5 quinas simbolizam os 5 reis mouros que D. Afonso Henriques venceu na batalha de Ourique.

- Os pontos dentro das quinas representam as 5 chagas de Cristo. Diz-se que na batalha de Ourique, Jesus Cristo crucificado apareceu a D. Afonso Henriques, e disse: “Com este sinal, vencerás!”. Contando as chagas e duplicando as chagas da quina do meio, perfaz-se a soma de 30, representando os 30 dinheiros que Judas recebeu por ter traído Cristo.

- Os 7 castelos simbolizam as localidades fortificadas que D. Afonso Henriques conquistou aos Mouros.

- A esfera armilar simboliza o mundo que os navegadores portugueses descobriram nos séculos XV e XVI e os povos com quem trocaram ideias e comércio.

- O verde simboliza a esperança.

- O vermelho simboliza a coragem e o sangue dos Portugueses mortos em combate.

[1733]

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Israel ocupada por Judeus, desde 14 maio de 1948

Israel ocupada desde 14 maio de 1948
“Nós não temos direito a este país”
31/5/2010


Passar a régua e deixar tudo como está?


Existe afinal de contas um povo judeu? A diáspora é apenas um mito que visa justificar a direito à Palestina histórica? Com teses ponderadas, o historiador israelita Schlomo Sand coloca em dúvida muitas coisas óbvias para muitos judeus – seus colegas protestam indignados.



É esse ditado alemão que fascina Schlomo Sand: muitos inimigos, muita honra. “Às vezes eu gostaria de ter menos inimigos, mesmo se significasse um pouco menos de honra” , reflete o historiador israelita em sua sala na Universidade de Tel Aviv. “Mesmo assim, a coisa vale a pena” , afirma o acadêmico de 63 anos.


A coisa, isto é, o livro com o qual Sand desencadeou uma discussão amargurada em sua pátria israelita há dois anos: “A invenção do povo judeu” chama o trabalho que apareceu naquela época em hebraico e desde há algumas semanas, agora em alemão.


A tese defendida ali é polêmica, para muitos até inadmissível: não existe prova científica da expulsão do povo judeu da Terra Sagrada no ano 70 depois de Cristo, escreve Sand. Em conseqüência disto, ele afirma:

- os judeus não são, portanto, um povo que estaria espalhado pelo mundo ao longo de 2.000 anos


- as comunidades judaicas da região do mediterrâneo e Europa são antes de tudo produto de um trabalho missionário dos religiosos judeus


- judeus não são uma etnia, mas sim meramente uma comunidade religiosa, à qual teriam se juntado grupos de diferentes origens.


Em um país onde cada criancinha já sabe que os judeus procedentes da Alemanha e do Marrocos, Etiópia e Iraque têm a mesma herança cultural e genética, isso soa como alta traição.


“Eu perdi um monte de amigos”.


“Eu coloquei em dúvida o mito fundamental da sociedade judeo-israelita”, declara Sand a respeito da avalanche de indignação, que ele ocasionou quando publicou seu livro. A legitimação do Estado de Israel é derivada a partir do exílio onde os judeus teriam vivido ao longo de 20 séculos. “Este exílio nunca existiu, e com isso o sionismo se torna supérfluo”, diz Sand. “Como querem legitimar o ‘retorno ao lar’ dos judeus em sua antiga Pátria, se os judeus nunca deixaram essa região?” Suas pesquisas abalaram “os fundamentos da moderna Israel”, diz Sand convencido.


Mesmo que não se queira ir tão longe: o trabalho de Sand provocou enorme repercussão. Ao longo de 19 semanas, seu livro figurou na lista dos best-sellers da França. Entrementes, “A invenção” foi traduzida em seis línguas, outras 11 edições estrangeiras estão em preparação. Porém, ao orgulho de Sand mistura-se um pouco de melancolia: não apenas por receber milhares de cartas repletas de ódio, com diversas ameaças contra sua vida. “Eu perdi muitos amigos”, diz Sand.


Um motivo para a agitação: Sand aponta seus colegas historiadores como co-responsáveis pela construção de um mito. Sua reação foi respectivamente contundente. Sand deveria ter continuado a se ocupar com a história francesa, do que se meter nas especialidades de outras pessoas. A suposição de Sand que haveria uma espécie de conspiração entre os cientistas judeus em promover um clichê histórico, é “pura fantasia”, escreve Israel Bartal da Universidade de Jerusalém no jornal “Haaretz”.


Um Statement político


O que torna o trabalho de Sand problemático, são as derivações políticas que ele faz a partir de suas pesquisas históricas, escreve um famoso comentarista. Sand conclui que Israel é um país racista e anti-democrático, onde não-judeus são descriminados sistematicamente. Como podem denominar Israel uma democracia, se 2,5 milhões de palestinos dos territórios ocupados não possuem direito para dialogar? “Naturalmente isso é um statement político”, diz Sand, que vê a si próprio como um historiador consciente em boa companhia. “Historiadores produzem o canhão ideológico com o qual se definem comunidades, nossa profissão é política por natureza.”


Alguém ainda pode continuar a ignorar por que a historiografia atual do holocausto judeu ainda deva ser mantida com unhas e dentes? A verdade histórica em torno deste episódio deve ser ocultada, a versão atual dogmatizada, mesmo que isso se faça pela força da lei, em outras palavras, através da censura nua e crua.

E onde estão os inconformados jornalistas, eternos defensores da tão sagrada liberdade de expressão? Quando um ativista político é condenado a 13 anos de prisão na Alemanha , apenas por expressar sua opinião a respeito do suposto holocausto e suas vítimas, onde se encontram os hipócritas defensores dos direitos humanos? Calados, acuados e constrangidos pela pressão imposta da Nova Ordem mundial Sionista – NR.


Auxílio para sua tese, que o judaísmo é apenas uma religião, não uma etnia, ele recebe de diversos assim chamados Novos Historiadores, que se ocupam desde a década de oitenta do século passado em corrigir a historiografia oficial israelita. Tom Segev, um bastante famoso historiador israelita, elogiou o livro como bem fundamentado e relevante politicamente: “Quer disseminar a idéia que Israel deva ser um país para todos seus habitantes – ao contrário de sua identidade declarada como Estado ‘judeu e democrático’.”


O próprio Sand não acreditou que poderia lecionar na universidade e que provocaria um verdadeiro escândalo antes de receber as honras. Como filho de um sobrevivente do holocausto nascido em Linz, ele veio no ano de fundação do Estado israelita, na região costeira de Jaffa com predominância árabe, não distante de Tel-Aviv. Aos 16 anos ele deixou a escola, ingressou no exército e combateu na guerra dos seis dias, depois trabalhou em fábricas. Somente com 25 anos terminou o segundo grau, estudou história e foi para a França, onde pesquisou o nacionalismo francês. Em 1982 retornou para Israel e leciona desde então em Tel-Aviv.


Os judeus não são um povo, mas sim uma comunidade religiosa


O trabalho de Sand alicerça-se na pesquisa moderna sobre nacionalismo, como formulou o cientista político norte-americano: segundo ele, nações são “comunidades inventadas”. Para Sand, a idéia do nacionalismo judeu nasce simultaneamente com a identidade de outros povos europeus por volta de 1850. Ao contrário da Europa, onde a idéia do Estado nacional étnico empalidece, em Israel ela é ainda a estrutura fundamental do Estado.


Sand e seus seguidores defendem a posição que deve ser passada a régua na história. “Nós vemos o que surge daí, quando antigos discursos são desenterrados e pronunciados em alto e bom tom”, diz Sand em referência ao “retorno ao lar” dos judeus para a Palestina. Segundo ele, o Estado israelita deve continuar a existir, os palestinos expulsos ficam onde estão. “Mas o Estado israelita deve reconhecer que leva nas costas a responsabilidade pela catástrofe palestina”, diz Sand.


O verdadeiro holocausto: extermínio sistemático de milhões de palestinos


Aos poucos fica claro o propósito deste artigo da revista-conforme ao Sistema – Der Spiegel: depois de exterminar a população palestina ao longo de décadas e lhes roubar boa parte do território, a coisa deve ficar como está... Inacreditável!! – NR.


Com seu livro, Sand quer contribuir com um primeiro passo em direção à reconciliação, em direção à paz: “Eu não queria continuar a viver aqui, se ao menos não tivesse tentado modificar o discurso.” Ele tem exatamente em mente, como deveria ser o ensino ideal de história nas escolas israelitas, conta ele em sua sala, onde até o teto se acumulam clássicos de filmes em vídeo-cassete.


O professor apareceria diante dos alunos e proferiria o seguinte discurso: todos nós sabemos que os judeus não são um povo, mas sim uma comunidade religiosa. A Europa nos cuspiu para fora no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Como nós não podíamos ir a lugar algum, nós usurpamos a terra de outras pessoas, sem perguntar. Por isso os árabes nos odeiam.


“Nós não somos um povo, nós não temos direito a estas terras. Se isso for ensinado nas escolas israelitas”, diz Sand, “haverá paz. E eu não preciso escrever mais qualquer livro.”


Os palestinos expulsos devem ficar onde estão, encurralados em sua própria pátria, mesmo que os israelitas não tenham "direito a estas terras". A velha política hipócrita do "bate e assopra" - NR


Der Spiegel, 30/05/2010.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Guerra e gás natural, offshore de Gaza.



A invasão de Israel e os campos de gás no offshore de Gaza

por Michel Chossudovsky
Mapa 1. A invasão militar da Faixa de Gaza pelas forças israelenses prende-se directamente com o controlo e propriedade das reservas estratégicas de gás natural na sua plataforma marítima.

Esta é uma guerra de conquista. Descobertas em 2000, são extensas as reservas de gás presentes ao longo do offshore de Gaza.

À British Gas (BG Group) e ao seu parceiro Consolidated Contractors International Company (CCC) com sede em Atenas, propriedade das famílias libanesas Sabbagh e Koury, foram dados os direitos de exploração de petróleo e gás num acordo de 25 anos assinado em Novembro de 1999 com a Autoridade Palestina.

Os direitos de exploração costeira das jazidas de gás são, respectivamente, da British Gas (60%); Consolidated Contractors (CCC) (30%); e o Fundo de Investimento da Autoridade Palestina (10%). ( Haaretz, 21/Outubro/2007).

O tratado AP-BG-CCC inclui o desenvolvimento da jazida e a construção de um gasoduto. ( Middle East Economic Digest, 05/Janeiro/2001).

A licença da BG cobre toda a zona marítima costeira de Gaza, que é contígua a várias instalações de gás marítimas de Israel (ver mapa abaixo). De ressalvar que 60 por cento das reservas de gás ao longo do litoral Gaza-Israel pertencem à Palestina.

Mapa 2. O BG Group abriu dois furos em 2000: Gaza Marine-1 e Gaza Marine-2 . As reservas, segundo estimativa da British Gas, são da ordem dos 40 mil milhões de metros cúbicos [1,4 x 10 12 pés cúbicos], avaliados em aproximadamente 4 mil milhões de dólares. Estes são os números anunciados pela British Gas. A dimensão das reservas de gás da Palestina pode ser bastante maior.

QUEM POSSUI OS CAMPOS DE GÁS

O tema da soberania sobre os campos de gás de Gaza é crucial. Do ponto de vista legal, as reservas pertencem à Palestina.

A morte de Yasser Arafat, a eleição do governo do Hamas e a ruína da Autoridade Palestiniana permitiram a Israel estabelecer um controlo de facto sobre as reservas de gás costeiras de Gaza.

A British Gas (BG Group) tem estado a negociar com o governo de Tel Aviv. Por sua vez, o governo do Hamas foi ignorado no que se refere à exploração e direitos de desenvolvimento das jazidas de gás.

A eleição do primeiro-ministro Ariel Sharon em 2001 foi um ponto de viragem. A soberania da Palestina sobre as reservas costeiras de gás foi desafiada no Supremo Tribunal de Israel. Sharon afirmou inequivocamente que "Israel nunca compraria gás à Palestina", insinuando ainda que as reservas costeiras de Gaza pertenciam a Israel.

Em 2003 Ariel Sharon vetou um acordo inicial que permitiria à British Gas fornecer a Israel gás natural vindo dos furos costeiros de Gaza. ( The Independent, 19/Agosto/2003)

A vitória do Hamas nas eleições de 2006 conduziu ao fim da Autoridade Palestiniana, que ficou confinada à Cisjordânia, sob o regime fantoche de Mahmoud Abbas.

Em 2006, a British Gas "esteve próxima de assinar um acordo para enviar o gás para o Egipto." ( Times, 23/Maio/2007). De acordo com o relatado, o primeiro-ministro britânico Tony Blair interveio em nome de Israel com o propósito de bloquear o acordo com o Egipto.

No ano seguinte, em Maio de 2007, o governo israelense aprovou a proposta do primeiro-ministro Ehud Olmert "para comprar gás à Autoridade Palestiniana". O contrato proposto foi de 4 mil milhões de dólares, com lucros na ordem dos 2 mil milhões de dólares, dos quais mil milhões iriam para os palestinianos.

Tel Aviv, no entanto, não tinha qualquer interesse em dividir os seus ganhos com a Palestina. Uma equipa de negociadores de Israel foi encarregada pelo governo de refazer o acordo com a BG Group, sem intervenção do governo do Hamas e da Autoridade Palestiniana:

"As autoridades militares israelenses querem que os palestinianos sejam pagos em bens e serviços e insistem que não haja qualquer dinheiro a ser entregue ao governo controlado pelo Hamas". (Ibid, ênfase acrescentada)
O objectivo era essencialmente anular o contrato assinado em 1999 entre o BG Group e a Autoridade Palestina sob Yasser Arafat.

Segundo o acordo proposto em 2007 à BG, o gás palestiniano dos poços costeiros de Gaza seria canalizado por um gasoduto marítimo para o porto israelense de Ashkelon, transferindo portanto o controlo da venda do gás natural para Israel.

O negócio falhou. As negociações foram suspensas:

"O chefe da Mossad, Meir Dagan, opôs-se à transacção por motivos de segurança, afirmando que o dinheiro serviria para financiar o terrorismo". (Gilad Erdan, deputado do Knesset, dirigiu-se à câmara, acerca da "Intenção do primeiro-ministro adjunto Ehud Olmert de comprar gás aos palestinianos quando o pagamento servirá o Hamas", 01/Março/2006, citado pelo general na reserva Moshe Yaalon em Does the Prospective Purchase of British Gas from Gaza's Coastal Waters Threaten Israel's National Security? Jerusalem Center for Public Affairs, Outubro 2007)
A intenção de Israel era impedir a possibilidade de o dinheiro ser recebido pelos palestinos. Em Dezembro de 2007 o BG Group retirou-se das negociações e em Janeiro de 2008 encerrou os seus escritórios em Israel. (sítio web da BG).

PLANO DE INVASÃO NA MESA DE PROJECTOS

O plano de invasão da Faixa de Gaza sob a "Operação Chumbo Fundido" foi iniciado em Junho de 2008, segundo fontes militares israelenses:

"Fontes militares afirmam que o ministro da Defesa Ehud Barak deu instruções às forças de defesa de Israel (IDF) para prepararem a operação há mais de seis meses (Junho ou antes de Junho), mesmo antes de Israel começar a negociar o acordo de cessar-fogo com o Hamas". (Barak Ravid, Operation "Cast Lead": Israeli Air Force strike followed months of planning [Operação "Chumbo Fundido": Ataque da Força Aérea Israelense após meses de planeamento), Haaretz, 27 de Dezembro de 2008)
Nesse mesmo mês as autoridades de Israel contactaram a British Gas, com vista a retomarem as negociações cruciais para recomeçar a compra do gás natural de Gaza:

"Tanto o director-geral do ministério das Finanças Yarom Ariav como o director-geral do ministério das Infraestruturas Nacionais Hezi Kugler concordaram em informar a BG do desejo de Israel em retomar as conversações.

As fontes informam ainda que a BG não respondeu oficialmente ao pedido de Israel, mas que executivos da empresa provavelmente virão ao país em poucas semanas para conversar com membros do governo." (Globes online- Israel's Business Arena, 23 de Junho, 2008)
A decisão de acelerar as negociações com a British Gas (BG Group) coincidiu cronologicamente com o planeamento da invasão de Gaza, iniciado em Junho. Parecia que Israel estava ansiosa para chegar a acordo com o BG Group antes da invasão, que estava já numa fase avançada do planeamento.

Mais ainda, as negociações com a British Gas foram conduzidas pelo governo de Ehud Olmert com o conhecimento de que a invasão militar estava na mesa de projectos e que um novo acordo politico-territorial para a Faixa de Gaza estava a ser contemplado por Israel.

De facto, as negociações entre a British Gas e os representantes israelenses ainda estavam a decorrer em Outubro de 2008, dois a três meses antes do início dos bombardeamentos a 27 de Dezembro.

Em Novembro de 2008, os ministérios israelenses das Finanças e das Infraestruturas Nacionais deram indicações à IEC (Israel Electric Corporation) para começar a compra de gás natural à concessão da BG em Gaza. (Globes, 13/Novembro/2008)

"O director-geral do ministério das Finanças, Yarom Ariav e o director-geral do ministério das Infraestruturas Nacionais, Hezi Kugler, escreveram recentemente ao presidente da IEC, Amos Lasker, informando-o da decisão do governo de permitir que negociações começassem, em consonância com o quadro de referência aprovado este ano.

A direcção da IEC, liderada pelo presidente Moti Friedman, aprovou os princípios da proposta do quadro de referência há poucas semanas. As conversações com o BG Group começarão assim que a direcção aprove a isenção de uma licitação". (Globes, 13 de Novembro, 2008)
GAZA E GEOPOLÍTICA ENERGÉTICA

Mapa 3. A ocupação militar de Gaza tem o objectivo de transferir a soberania dos campos de gás para Israel, em violação das leis internacionais.

O que se pode esperar em consequência da invasão?

Qual é a intenção de Israel em relação às reservas de gás natural da Palestina?

Um novo acordo territorial, com a instalação de Israel e/ou tropas de "manutenção da paz"?

A militarização de todo o litoral de Gaza, que é estratégico para Israel?

O confisco puro e simples dos campos de gás palestinos e a declaração unilateral da soberania israelense sobre as áreas marítimas de Gaza?

Se isto ocorresse, as jazidas de gás de Gaza seriam integradas nas instalações costeiras de Israel, que são contíguas às da Faixa de Gaza. (Ver Mapa 1 acima).

Estas várias instalações costeiras estão ligadas ao corredor de transporte energético que se estende do porto de Eilat, um terminal de oleodutos no Mar Vermelho para transporte marítimo, até ao terminal de Ashkelon e na direcção norte para Haifa, eventualmente ligando-se através de um projectado gasoduto israelo-turco com o porto turco de Ceyhan.

Ceyhan é o terminal das condutas Trans-Caspianas: Baku, Tblisi, Ceyhan (BTC). "O que está planeado é ligar as condutas BTC às condutas Trans-Israel Eilat-Ashkelon, também conhecida como a Tipline de Israel." (Ver MIchel Chossudovsky, The War on Lebanon and the Battle for Oil (A Guerra com o Líbano e a batalha pelo petróleo), Global Research, 23/Julho/2006)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Origens do conflito Israelita-Palestino

Ben Gurion e as origens do conflito Israelita-Palestino

"A lembrança, vaga agora, remete-me à noite de 14 maio de 1948. Vejo-me caminhando pelas ruas do Bom Fim. Vejo fisionomias radiantes, ouço gritos de júbilo... O Estado de Israel acabava de ser proclamado. Eu não podia me dar conta do que aquilo exatamente significava, mas a emoção me invadia irresistivelmente. O Estado judeu era uma realidade.

Se para um garoto de onze anos a data revestiu-se de tal significado, imagine-se o que ela representou para os adultos, muitos deles emigrantes da Europa Oriental, vários sobreviventes do Holocausto. Imagine-se o que significou para as comunidades judaicas de todo o mundo. A sensação era de que um sonho enfim estava se realizando. Aliás, não era só sensação: era aquilo mesmo. Um sonho se realizava". (Moacyr Scliar) [1]


Como sociólogo aprendi que não é possível compreender um fenômeno, para além das aparências, se não apreender seu movimento interno desde as origens.[2] Como afirma Meron Benvesti, autor de A História Sepultada da Terra Santa desde 1948, ex-vice-prefeito de Jerusalém:

Para compreender verdadeiramente a herança palestina e israelense de ódio, é preciso voltar às experiências pioneiras dos primeiros colonos sionistas que tentaram assentar-se na sua terra ancestral, habitada por uma comunidade hostil, e a ira árabe que saudou essa intrusão de forasteiros. Esse trágico encontro está profundamente marcado na consciência de ambas as comunidades e define suas percepções. [3]
Até a I Guerra Mundial, a Palestina esteve sob controle do Império Otomano. É ainda no século XIX (1881-1900), que ocorre a primeira Aliah [4], a imigração judaica para as terras palestinas. O sionismo moderno, sob inspiração de Theodor Herzl, dava então seus primeiros passos encaminhando os primeiros chalutzim (pioneiros) para a Terra Santa. Estes enfrentavam as mais duras condições de vida. M. Michel Bar-Zohar, o biógrafo do fundador do Estado israelita, Ben Gurion, descreve a Palestina nestes anos:

Esta antiga pátria nada tem em comum com o Paraíso terrestre descrito pelos escritores bíblicos. As guerras, o abandono, a erosão, a indiferença de povos estranhos que se sucederam sem criar raízes na região, fizeram muitos estragos. Os vergéis e as margens de riso do Cântico dos Cânticos metamorfosearam-se em espaços áridos. Os pântanos, onde viceja o impaludismo, dominaram as férteis planícies costeiras e os ricos vales do interior. O sol implacável abrasava as montanhas da Judéia, transformadas em esqueletos de rochas desnudas. A Palestina tornou-se o ponto negro, o território mais desprezado do Império Otomano. [5]
É certo que os palestinos durante muito tempo foram majoritários naquela área. Mas já se encontrava uma minoria judaica dispersa pelo território palestino. Alguns deles descendiam de ancestrais que nunca deixaram a Terra Santa e que sobreviveram aos vários editos de expulsão. Outros eram originários de outras regiões do Império Otomano e do mundo mulçumano. “Formavam uma comunidade fatalista despida de iniciativa. Singelos e inocentes, aguardam com uma paciência oriental a chegada do Messias, o verdadeiro...”, escreve Bar-Zohar. [6]

Nos primeiros tempos da aliah, muitos judeus da diáspora nem mesmo aceitavam a idéia da possibilidade da supremacia judaica na Palestina. Os próprios financiadores da aventura do povoamento judaico na palestina eram tidos como loucos. Sir Moses Montifiori, um desses loucos, lançou, em 1839, o primeiro projeto de colonização. Foi por sua iniciativa que, em 1856, estabeleceu-se a primeira plantação agrícola de laranjas sob controle judaico em terras palestinas. Carl Neter fundou, em 1870, uma colônia agrícola em Mikve Israel. E o Barão Edmundo Rothschild, o mais famoso, comprou terras e criou colônias agrícolas, enviando seus instrutores para ajudar os primeiros pioneiros.

Não se imaginava que a humanidade pudesse vivenciar os horrores do Holocausto, mas os judeus ainda passavam pelo sofrimento milenar da perseguição, da discriminação e dos pogroms. A realidade cruel do Judeu Errante em busca da sua terra, da sua pátria, alimentou o sonho de muitos jovens chalutzim organizados em colônias coletivas, o Kibutz.

O movimento chalutziano, manifestado pela aliah em suas diversas etapas foi a espinha dorsal da colonização judaica. Para Ben Gurion, este movimento “eleva o homem, enriquece sua vida, descobre nele forças latentes; em suma, o chalutzianismo é a parcela superior do homem.” [7]

Tratava-se de acreditar e contar com suas próprias forças, ainda que pequenas. Ben Gurion enaltecia os chalutzim:

Os vintes rapazes e moças que há trinta anos fundaram nas margens do Jordão a primeira comuna, fizeram para a história judaica e universal, para o movimento trabalhador judeu e internacional mais do que toda a massa de socialistas e revolucionários judeus que se atrelaram ao carro revolucionário dos grandes povos e zombaram da obra “desprezível” e rara dos chalutzim em Eretz Israel. [8]
Desde o início, os chalutzim tiveram que enfrentar a resistência árabe. Estes, à época do Império Otomano, constituíam uma população de cerca de 500 mil. A população judaica, crescendo pouco a pouco com a chegada de diversas levas de imigrantes, atingiria, no ano de 1930, a casa dos 300 mil. A reação árabe se intensificou, e estes conseguiram que o governo britânico restringisse a imigração judaica à região – a Palestina passara para o domínio inglês após a I Guerra Mundial. Observe-se que à época o nazismo avançava na Europa.

Um fato ilustrativo do potencial conflituoso entre essas populações, ocupando e reivindicando o mesmo espaço, ocorreu na páscoa judaica de 1909, assim relatado por Bar-Zonhar:

O núcleo de Sejera está em festa. Os muros da sala principal estão decorados com armas e ferramentas agrícolas, símbolo da dupla finalidade dos pioneiros: trabalho e defesa. Mas, neste dia tudo se concentra nas canções e nas danças.
Inesperadamente, ressoa um grito. Junto à porta, um jovem ainda trêmulo. Com voz rouca, conta que ele e seus dois amigos que vinham de Haifa foram atacados por três árabes armados, com intenções de pilhagem. Após sangrenta reação, conseguiram escapar. Um dos árabes morreu. [9]
A reação não tardou. Rezava a tradição que os membros da tribo do morto deveriam, por sete dias, vingá-lo. E assim ocorreu. No oitavo dia da Páscoa, Israel Korngold, sentinela do núcleo, é morto e seu rifle roubado. “Neste dia eu entendi muitas coisas”, conta Ben Gurion. “Eu entendi que mais dias menos dias, teríamos a prova de força com os árabes. A partir desse momento em Sejera, compreendi que o conflito era inevitável. O que se passou em Sejera era uma brincadeira ante as dificuldades que nos esperavam. Devíamos nos preparar para enfrentá-las.” [10]

E, infelizmente, o Profeta Armado estava certo. As duas comunidades ainda se enfrentariam por várias oportunidades. Nestes confrontos prevalece a lei do mais forte. Ben Gurion compreendeu bem isto. No mesmo dia em que ele declarou a fundação do Estado de Israel, este foi atacado pelos exércitos da Jordânia, Egito, Síria, Iraque e Líbano. Foi sob a liderança de Ben Gurion que os judeus derrotaram-nos.

Desde então, vemos uma guerra que parece não ter fim. Seu fundamento reside numa questão aparentemente simples: a disputa de terra. Sob beneplácito da ONU, e com a simpatia mundial, horrorizada com o Holocausto que ceifou a vida de milhões de judeus, concedeu-se aos mesmos o direito de terem o seu território, a sua própria pátria. Mas, a mesma ONU estabeleceu um plano de partilha do território palestino, criando também o Estado da Palestina. Para os palestinos, esse plano ainda não saiu do papel.

Os árabes demonstraram então que não aceitariam o Estado Judeu – e manifestaram-no novamente na Guerra dos Seis Dias, em 1967. O Estado judeu, por seu turno, procurou se fortalecer e conseguiu um grande aliado: os Estados Unidos da América. A guerra fria, o fato da comunidade judaica neste país ser uma das maiores e mais importantes do mundo e a capacidade de Ben Gurion, em termos de política exterior, foram determinantes.

A expansão do Estado judaico procurava, como hoje, dar uma resposta ao problema da segurança, ou seja, à questão da própria sobrevivência do Estado. A colonização de terras palestinas insere-se neste contexto. Por outro lado, criou-se outro enorme problema para a paz: a questão dos refugiados. Ben Gurion percebeu bem este dilema e observou o quanto a situação dos refugiados era desesperadora. “Eles constituem um fator de complicações e perigos no desenvolvimento de nossas relações com os países vizinhos”, afirmou. [11]

São dois nacionalismo que se antagonizam: o judeu e o árabe. De um lado, a frustração da população árabe que vivia na palestina diante da implantação do Estado de Israel; uma população expulsa das suas terras e submetida à força do Estado judeu, sem possibilidades de estabelecer a sua pátria, o seu Estado autônomo. De outro, o Estado Judeu, sentindo-se com o direito milenar àquelas terras e sob ameaça constante dos seus vizinhos. De um lado, a necessidade de reconhecimento do Estado palestino; de outro, o direito à existência do Estado israelense. Em suma, uma disputa pelo mesmo espaço territorial entre dois povos, ambos reivindicando direitos históricos sob a área.

Na apresentação da biografia de Ben Gurion, visto por Maurício Tragtenberg como a “versão hebraica de Maquiavel e o “Príncipe” é substituído pelo “Velho Testamento”, ele escreveu:

“Dizia Napoleão ser a política, a forma moderna da tragédia. Por outro lado, a pureza dos princípios não só tolera como requer as violências e Israel não é a exceção”. [12]
Em nossos dias a violência se traduz na fúnebre dialética entre o medo e o terror, estabelecendo um círculo de mortes de parte a parte. As acusações mútuas não substituem a necessidade da paz. Israel não estará seguro enquanto houver um homem e uma mulher palestina dispostos a se explodirem pela causa da libertação; os palestinos não estarão seguros enquanto o Israel não superar o medo. O apoio da maioria da população israelense ao terrorismo de Estado, expressão da política de Sharon – a julgar pelas pesquisas divulgadas na imprensa – e, por outro lado, a simpatia com que conta os homens e mulheres bombas entre a população palestina, são os dois lados de uma tragédia que une, para o bem ou para o mal, estes povos. O conflito atual mostra que a obra de Ben Gurion ainda encontra-se inacabada.


1 - In: HERZL, Theodor. O Estado judeu. Rio de Janeiro, Garamond, 1998.
2 - As origens do povo judaico, para além da modernidade, remontam aos tempos bíblicos. Não cansarei o leitor: me aterei ao período mais recente. De qualquer forma, vale a pena recorrer ao textos do livro sagrado e ler, por exemplo, Êxodo.
3 - Citado in: Clovis Rossi. População transita entre estigmas de “bons” ou “cruéis”. Folha de S. Paulo, 07.04.02, p. A-24.
4 - Palavra hebraica que indica ascensão, subida, ou seja, viagem a Sion, com o fim de radicar-se definitivamente. Designa as várias etapas de imigração judaica para a Palestina.
5 - BEN-ZOHAR, M. Michel. Ben Gurion: O Profeta Armado. São Paulo, Editora Senzala, 1968, pp. 43-44. (Apresentação e tradução de Maurício Tragtenberg)
6 - Idem, p. 44
7 - BEN GURION, David. O despertar de um Estado. Editora Monte Scopus, 1957, p.150.
8 - Idem, p. 28
9 - BAR-ZOHAR, op. cit., p.52
10 - In Idem, p. 53
11 - BEN GURION, op. cit., p. 100
12 - A frase é de Maurício Tragtenberg, da aprensentação do livro Ben Gurion, O Profeta Armado, p. 07.


ANTONIO OZAÍ DA SILVA